Escrita de Pressão. Também em Jorros de Litro.
27
Jan 15
publicado por A.Bruto, às 00:29link do post | comentar

Os mecanismos que mecanizam em liberdade são os que mais produzem felicidade.

A verdade que se esconde na revolução de um motor de combustão não é menos verdadeira que a que se revela num batimento de um coração.

A rapidez de um piscar de olhos pode demorar tanto tempo quanto a duração de nove mil milhões, cento e noventa e dois milhões, seiscentor e trinta e um mil, setecentos e setenta períodos da radiação correspondente à transição entre dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133.

A música é tão livre da mecânica de um segundo atómico como presa a esse instante de vida.


02
Mai 13
publicado por A.Bruto, às 15:59link do post | comentar | ver comentários (1)

cinzentos que iluminam o algo negro, sobrevivem agora em paralelo o que se transpira e se guarda cá dentro.

tudo por fora é mais obra de fachada, arquitectura delicada, apoiada em estacas submersas no lodaçal em que foram erguidas por transtornos.
a rapidez de raciocinio é redundantemente veloz quando se trata em fazer tremer fundações, essas peças de dominó relutantes em cair.
tremem.
tremo.
mais uma função em que, posto à prova, relato a lenga-lenga infantil que me habituei a repetir para me encostar a uma parede mestra e não deixar que ela caia.
Fecho os olhos e o passo em frente, um dia, há de ser em falso. 
E o alívio do abismo, é certo, será mais libertador que a incerteza.
O pior será cair.

23
Mai 12
publicado por A.Bruto, às 17:53link do post | comentar

da latina prigitia à ausencia de vontade, passaram milénios de inacção.

celebremos a História uma vez mais, deixando para depois o que é já.


publicado por A.Bruto, às 17:44link do post | comentar

a eterna promessa de ser foi mantida,

escondida,

pela constante mortalha

da preguiça e laissez-faire, 

estrangeirismo adequado à pretensão.

espera-se um alívio num sopro de vento frio

que nos acorde para o real.

 


19
Mar 12
publicado por A.Bruto, às 16:37link do post | comentar | ver comentários (2)

à eterna vontade de fazer sobrepõe-se

a falta de jeito,

a ausencia de arte,

o nulo sacrifício

e a eterna preguiça.

não há volta a dar,

o que na cabeça soa lá,

na prática é um dó.

 


13
Mar 12
publicado por A.Bruto, às 15:16link do post | comentar

A lingua presa do feito e refeito,

do já está e não volta.

Sempre o fim, e do fim e ao cabo,

que deixou estreito, feito e refeito,

a  alternativa de fazê-lo melhor.

Do foi e não foi, fui o grande imperfeito

que esqueceu o malfeito

e vive, por defeito, infeliz e melhor.

Do salto maldito, do dia perdido,

da viagem do engano,

do engenhoso plano

de ter uma vida que se pensa maior.

Esperando o final, em aberto despeito,

escolhido por outros, em aberto rancor.

O erro está feito, e dentro do peito

carrego o defeito de não ser pior.

 

 


publicado por A.Bruto, às 14:59link do post | comentar | ver comentários (2)

atirei-me de olhos abertos

chorei no caminho, o vento a bater na cara como minúsculas agulhas

lâminas que separavam a pele dos músculos e os músculos dos ossos

vi o fim chegar, toquei-lhe com a ponta do nariz

tão perto que o cheiro da calçada molhada

e do sangue derramado

nunca mais me largou

 

 

 


01
Mar 12
publicado por A.Bruto, às 18:11link do post | comentar

com o cheiro a terra molhada, relembro as largadas de toiros ("à moda de pamplona") que a infancia levou, entre dores de barriga por comer tanto tremoço, enquanto se espreitava uma nesga do boi por baixo da paliçada construída para o efeito. e é por isso que os meus amigos, que são tão amigos meus como dos animais, não compreendem porque não os acompanho em marchas inúteis e verdes palavras de ordem.

 


20
Fev 12
publicado por A.Bruto, às 12:26link do post | comentar

Entupimento. 

respiração off

gant.

sobram dores dobradiças.

Escarros e escaras.

peito preso preso peito

preito peso peso preito

 

é o que faz a medicação em conformidade,

tanto para isto como para aquilo.

 

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publicado por A.Bruto, às 12:16link do post | comentar

Hoje a rádio ajuda

O miúdo abandona aos poucos a razão e estala compassadamente os dedos enquanto o velho Dean Martin canta sobre miúdas de azul.

erguemos o copo e emborquemo-los de uma só vez em honra do velho crooner

de que vale ter ídolos se não lhes fizermos um brinde de vez em quando?

Lança-se no ar agora uma versão do My Funny valentine sem nos levantarmos da cadeira.

Na esplanada, uma mulher também escreve. Nunca a vi por aqui nem a vejo hoje, os chapéus de sol fechados intrometem-se no meu campo de visão - vejo-lhe as pernas e os braços a debitar para um caderno igual ao meu. Talvez esteja a descrever-me como eu tento fazer. Ou esteja só à procura de uma razão para estar ali. tal como eu.

Cantamos para dentro enquanto o cigarro chega ao fim - está demasiado frio para enrolar outro, apesar de ter no bolso um maço dos outros, enrolados em máquinas infernais de fumo e enxofre.

A moça fala agora ao telefone e diz que tem as mãos geladas "devia ter trazido as luvas, amor"

O amor, pelos vistos, concorda e roga para o seu regresso. Todo o amor regressa quando tem frio.

 

 


publicado por A.Bruto, às 12:03link do post | comentar

O simpático trio do iludido e as duas miúdas lá foram fumar o charro às escondidas,

mesmo no meio da clareira do parque.

(Há dias em que, fora da esplanada, na varanda de casa, os vejo em ginásticas normais e tendas humanas

tentando evitar que o vento lhes sopre o resto do entorpecimento para o chão)

 

As mulheres bonitas (pelo menos uma delas já sei que o é)

estão atrás de mim a estudar, ou a ler

ou hoje sou eu a ser observado

figura (ridícula) de preto,

com as sapatilhas da moda

e as mãos geladas que debitam gatafunhos que só eu entenderei.

Dessa forma, ninguém perceberá as paranóisas e descrições,

ficando mascaradas de textos indecifráveis

que, depois em casa, eu tento perceber -

como se fosse um autor com substancia e não fosse também um iludido.

(mas que nunca gastaria duzentos paus em uisqui com duas fedorentas)


publicado por A.Bruto, às 11:58link do post | comentar

A outra mesa está ocupada atrás de mim, não as vendo, oiço-as.

A certa altura, uma levanta-se e vai ao balcão,

lembrando-me de que gosto de mulheres que, mesmo no inverno, sabem que são boas e não têm medo de o mostrar,

mesmo que os mamilos estejam sempre espetados com o frio.

Para meu alívio, ao vê-la assim, a pele esticou e o sangue afluiu para a extremidade correcta.

 


publicado por A.Bruto, às 11:47link do post | comentar

Tudo normal, como dantes,

Duas mesas ocupadas na esplanada que de agradável tem o facto de ser a 13 passos da porta de casa,

mas que não disfarça o frio que se faz sentir.

Ouvimos a rádio mal sintonizada, comercial, catadupa de temas vazios de qualidade musical.

Será mais interessante ouvir as conversas das mesas ao lado

o miúdo a  querer impressionar as miúdas que o acompanham embevecidas,

ouvem (ouvimos todos) como o rapazola gastou duzentos e sessenta paus

em uisqui velho, só porque o Nelinho chamou as gajas mesmo fedorentas lá para a mesa deles

naquela noite.

Com esta conversa, o pau dele cresceu um centímetro

e as miúdas só pensam na quantidade de dinheiro que

as fedorentas ganharam com um iludido.

 

 


10
Fev 12
publicado por A.Bruto, às 18:03link do post | comentar

a quem puder, (e só tu sabe que podes)

um escritor fantasma de noites adulteradas

e vidas feitas de olhos semicerrados.

Deixa o teu umbigo e vê a vida dos outros

que, pela tua pena, morrem lentamente.

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08
Fev 12
publicado por A.Bruto, às 18:26link do post | comentar

Menos olhar e mais juízo!

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publicado por A.Bruto, às 18:23link do post | comentar

como ser positivo

se nasci no pólo errado?


06
Fev 12
publicado por A.Bruto, às 10:24link do post | comentar

Se cada dia é o dia novo

e temos que espremer limões

para fazer dinheiro e

comprar morangos

rio-me da lembrança de puto

em que cada dia era vivido

com a urgencia de

que fosse passado.

 

 

 


publicado por A.Bruto, às 10:20link do post | comentar

ai ai como eu gostava

de escrever como o godinho

meter as palavrinhas

com muito cuidadinho

todas juntas e certinhas

para que houvesse

algum sentido nisto.

 

 


28
Out 11
publicado por A.Bruto, às 11:09link do post | comentar | ver comentários (1)

Numa sala fechada, em que todo o mundo vê o que eu vejo,

o ridículo que se torna respirar

e viver entre golfadas de ar

é cada mais óbvio.

As pessoas passam à minha volta,

e gostam de me atirar amendoins metafóricos,

afinal, sou o animal favorito que todos odeiam,

preso, em observação demente.

Respondo como deve ser,

espalhando fezes pelas paredes

do quarto.

Frequentemente, é só o que querem ter

para os preencher.

Ocasionalmente, uma cabriola

de uma vida passada

que os faz rir enquanto apodreço. 

Mas o meu vazio, o vácuo, o

grande buraco no peito, eterno,

torna-se assim mais difícil de preencher,

por essa peça, única,

orgão vital que foi perdido entre brincadeiras

de olhos fechados e cabeça entorpecida.

Este invólucro de ar, gás, fezes

e desdém pede esse mesmo ar, só esse,

que me comprime há demasiado tempo

pela sua ausência, sorvendo vida

entre inspirações e expirações.

Mas tudo isto se passa dentro.

Quem me vê

tenta perceber, entre o suor das virilhas

que lhes dou a cheirar,

como continuo a querer viver.

Tento que percebam, animal que sou,

com bostas de pontaria certeira,

o que é primário.

Nego-me, assim, a rasgar o peito em dois.


13
Set 11
publicado por A.Bruto, às 11:33link do post | comentar

Apertado entre os teus dedos,

um cigarro debatia-se devagar

consumindo-se por dentro

enquanto os teus lábios

não o beijavam até ao fim

 Deixaste-o arder,

enquanto o olhavas 

com um olho sorridente

e o outro meio fechado pela mão que sustinha a face cansada,

essa linha laranja de fogo e fumo transformar-se

num rápido vaticínio de morte.

 Puxaste um trago de fumo azul

rapidamente expelido pelas narinas

adormeceste no café

enquanto os dedos te queimavam

Nem isso te acordou

Nem quando te levantaste

desprezando as moedas

com que compraste o tempo 

necessário para um cigarro morrer

apertado entre os teus dedos,

continuaste a dormir.


25
Ago 11
publicado por A.Bruto, às 15:41link do post | comentar

Enquanto suas excelencias, americanas, ruminam como americanos que são,

que podiam ser portugueses ou chineses,

ruminariam de igual forma 

sobre a burocrática hipótese de,

eventualmente,

considerarem

como exequível

a possível entrega

em mãos,

sujas,

de uma caixa do que podiam ser

bolos ou cartilagens,

armas ou vinho

embalo, por meio momento,na banda sonora perfeita para o meu acidente mortal, "i've read the news today, oh boy" pam e já está, chapa retorcida e corpo rasgado, a que sempre foi inútil massa cinzenta ensopada nos estofos baratos, sem direito às memórias como nos fimes porque essas coisas acontencem nos filmes para que nós nos iludamos com o Sentido Maior do que é posto na terra e inspirado e respirado milhões de vezes até o deixar de fazer, mesmo que o faças com muita vontade de fazer as coisas que queres fazer, muito boa que a banda sonora seja, és surdo no momento em que a vida é esta e só esta e nunca será filme ou história digna de conto, ou nota de rodapé de pacote de açúcar, o corpo, rebentado como exoesqueleto de insecto pressionado entre o polegar e o indicador, se solta como 4 pianos em uníssono numa grave nota, soada até à asfixia

ruminaram e decidiram

os burocratas do lucro

que me permite respirar mais um dia

enquanto embalo, por meios momentos,

na minha morte.

 

conduzo e o disco acaba.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


10
Ago 11
publicado por A.Bruto, às 10:32link do post | comentar

navegas na tua vontade

de acreditar que tens razão

e de que sou como tu

queres acreditar que sou

esqueces-te que a tua

razão

é só tua

e está tão certa

quanto a força com que

convences o mundo

de que está certa

 

pergunta-me mais coisas

e estende mais rasteiras

(respondo-te como

responderia

a quem me quer bem)

adapta, corta e

tenta convencer-te

de que o que fazes

está certo

quando sabes que

a tua vida é inútil

como tu

 

talvez a memória

não seja tão fraca

como pensas

e talvez

as proporções

não sejam as desejadas.

Habitua-te a ela,

seja a puta da vida

ou a vida de puta

 

Invejo-te a persistencia

e o olhar vazio

com que trespassas

quem nunca acreditou

em ti

 


04
Ago 11
publicado por A.Bruto, às 15:48link do post | comentar

chega

 


publicado por A.Bruto, às 14:51link do post | comentar

pálpebras pesadas

a meio do dia

pela lei da gravidade

já trabalhadas, egoísticamente,

alías, defeito de antanho,

como tudo o que me gere,

tudo o que me rodeia

e o que

é meu

meu meu

eu

eu

eu

eu

 

essas foram um dia levantadas,

foi um arcar de sobrolho apenas,

o suficiente para espreitar

o que vinha lá

e me sorria com tanta força

sem, desta vez, se rir de mim,

talvez tivesse sido o suficiente

para despertar

como se fosses

tempestade tropical

ou mesmo um vento fresco

que, naquele dia, me levantou

e rodopiou no ar, sem

bater com os pés no chão

e eu subi

e eu

e eu e eu

agarrei-me a ti

pensei que eu

não pudesse ser só

eu,

e juntos,

contraciclo

e tensão corrente,

saíssemos a

correr e voltar a

parar

respirar

olhar, de olhos bem abertos,

o vento que se tornou

parede à minha volta.

 

Agora, sem poder tropeçar

nem descansar

corro todo os dias

o teu ar fresco, que me acordou,

mantém desperto

cerca-me, revoluto,

enquanto corro, todos os dias

no olho do furacão.

 

 


02
Ago 11
publicado por A.Bruto, às 14:46link do post | comentar | ver comentários (2)

 

 

sei que não sou zero por muito pouco,

e que pelas matemáticas pessoais dos afectos

divididos em fornecedores, 

colaboradores e consumidores,

faço parte destes últimos

(e dos outros todos também)

 

sem estornos nem estorvos

sem dádivas nem recibos

desconto o pesar imposto

(sempre a contra-gosto) à tua  

conta corrente viciada

 

fossem economizadas

as lágrimas que

rebentam as escalas

fossem feitas contas

de cabeças levianas

ou, sobretudo, humanas

fosse poupado o esforço

de debater o preço a pagar

para manter esta

empresa do viver

fossem evitados os erros

de querer crescer sem

saber gerir

o que se tem

fosse tudo isso feito,

(e seria pouco)

e esta crise,

de boca cheia crise,

seria passageira

e eterno seria o lucro,

teu, meu, nosso.

 

 

nunca a matemática

foi tão certa

como no dia em que fizemos

contas de cabeça

e,

noves fora nada,

nesse dia

todas as aritméticas

resultavam num um mais um

que era sempre igual

a um e ao outro

 

 

 

 


publicado por A.Bruto, às 14:38link do post | comentar

Quando te escrevemos,

sempre em quarta pessoa,

não será porque sejamos mais do que

um

mas porque o um

nunca se sente tão

sozinho

como quando te

escrevemos.

 

 

 

 

 


24
Jun 11
publicado por A.Bruto, às 17:57link do post | comentar

rio-me. escarneço de ti.

desculpa, talvez queiras que

soletre ou que te dê

uma definição da tua propria

ignorancia?

 

Tal como ignoras

a tua falha mental,

menos que doença

e pouco mais que

animal

ignoro-te, imbecil.

 

porque te falta a coragem

porque te falta a força

porque não passas de uma coisa

coisinha

minuscula

insignificante

 

como um pedaço

de estrume que se solta

de uma roda

e que passa a ser

parte de um asfalto

todos os dias pisado

por quem te passa por cima.

 

percebes agora?

queres uma foto?

talvez de camara escondida?

o olho magnético do

imbecil unicéfalo

que te tornaste

revelou a tua falha.

 

talvez um dia te arrependas, talvez não.

pensa nisso

quando olhares para cima

e te aperceberes

que nunca foste nada

e sempre viveste a vida

dos outros

 


16
Jun 11
publicado por A.Bruto, às 23:21link do post | comentar

 

o que interessa é explicar

que a merda escorre

naquele sentido 

do público

sanitário

altivo e

embevecido

com a sua própria

estupidez

 


publicado por A.Bruto, às 23:05link do post | comentar

 

Entre um cigarro e uma cerveja

vejo sempre as vizinhas

enquanto conversam

sobre o tudo e do nada

sobre tua vida disfarçada

entre dentes 

e da vida dos outros também,

e de quem partiu para a outra,

coitado,

réplica imediata que

coitados somos nós

Que se sentam no café a espalhar a notícia

Da vizinha e do preço das coisas

E eu que envelheço enquanto vejo

o vosso tempo gasto em cinzas. 

Pois esse, bebo-o eu,

Com um brinde macerado

em arrependimento

quando penso no tempo

que perco  a ouvir

as conversas das vizinhas.


06
Jun 11
publicado por A.Bruto, às 10:18link do post | comentar

 

 

Não, não durmo

não estou intoxicado

nem sou tão estúpido

que não te leia.

 

Vejo o que fazes e

oiço o que dizes quando

julgas que durmo.

 

 

sabes do que falo,

não preciso de ser directo

nesta cenografia do engano

 

por isso escrevo dúbio

e rasgo a minha vida

em três

 

adivinha qual tu és.

 

 

já partiu.

a pólvora subiu pela garganta,

numa corrida espiral

em memória de amargos

de boca e fumos azuis

que sobem e rasgam

a nuca,misturando-se

em quantidades de

exactidão culinária

de sangue e escalpe

e a vontade final de

deixar por dizer

o que te 

  


01
Jun 11
publicado por A.Bruto, às 10:39link do post | comentar

olho em volta e todos vêem o mesmo que eu,

dentro dum pensamento que se mastiga e me corrói

repetido em filme surdo mudo e manco

sem direito a legenda ou explicação,

estático em evolução ou argumento,

apenas com um desconforto

como introdução.

 

Ampliando-se em vórtice

neste aleatório momento preciso,

rasga, a pouco e pouco, o tendão

do grego que nos lembra

das fraquezas humanas

e em proporções divinais,

multiplica a sede que me afoga,

esperneando por demorar tanto tempo

a tomar o seu devido lugar

 

A estátua desfaz-se enquanto

a orquestra desafina.

Assim, atinjo a perfeição

sem nunca ter existido.

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publicado por A.Bruto, às 10:17link do post | comentar | ver comentários (1)

não me vendam histórias

embrulhadas em factos de jornal

não me atirem areia

para os olhos

com provérbios berberes

 

Não me tentem impingir

metafísicas de chocolates

nem profetas bastardos

velhacos da parte da mãe e

ignorantes da parte do pai

 

não tentem.

eu agradeço e não me julguem ingrato

ou umbilical

respeito a vossa maldade

assim como respeito a minha vontade

(ou vice-versa, nunca sei)

 

Não falem, não olhem,

não respirem no meu pescoço

não me queiram, não me

façam nem o bem nem o mal,

eu rezo a mim para que o dia acabe.

 

 


03
Fev 11
publicado por A.Bruto, às 11:34link do post | comentar

"será, então um problema. disse grave, a voz afectada de certezas e livros estudados, um problema de difícil solução. a firmeza das palavras

rapidamente se fragmentou como dentes de leao na cidade, desaparecendo para nunca mais ser vista."

 

(aguiar em criação)


07
Dez 10
publicado por A.Bruto, às 09:43link do post | comentar

Experimentas a inércia quando corres
e não consegues parar.
Quando te jogas contra paredes desse corredor apertado,
para tentar abrandar o corpo descontrolado
que não ganha nem perde velocidade
(dois muros, lado a lado

e a terra e o céu em seus deveres primordiais),
trotando rodeado de silvas e mato

que te vai rasgando a carne.

aí sim, podes falar de inércia,

quando a velocidade do teu corpo em movimento é inalterada,
mesmo se te largam fogo
ou tropeças sem cair.

Tudo o resto é preguiça.

 


27
Nov 10
publicado por A.Bruto, às 12:43link do post | comentar

adérito inapto fazia jus à sua graça,

sempre fito, sempre de fato,

corria junto ao caixão

no desfile do enterro

 

a solenidade obrigasse

que o falecido fosse chorado

mas adérito cuidava,

sempre afoito, fato inteiro,

que trabalho, quando surgisse,

só no fim estava feito.

 

viúvas e filhas chorosas

olhavam-no de lado

e bem vistas as coisas,

as outras também

mas adérito sorria

e que o que mais lhes apetecia

era mandá-los a todos

para o mesmo buraco.

 

adérito sorria porque sabia

que, enquanto cá andasse

os ia enterrar a todos.

e mesmo quando ela surgisse

de surpresa, como já tinha visto

e enterrado,

todos iriam pensar

em que vai enterrar

o adérito inapto

 


12
Nov 10
publicado por A.Bruto, às 16:36link do post | comentar | ver comentários (2)

 

 

"A mó do moinho,
Sentas-te ali
E está fresquinho"

(P. Águas)


22
Out 10
publicado por A.Bruto, às 15:14link do post | comentar

Alma morta
Noutro dia primeiro
Abriu os olhos e chorou


....


Quatro vidas
Depois da primeira morte
Somou as restantes e sorriu


...


Sôfregos tempos,
os de termos sozinhos
as respostas

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09
Set 10
publicado por A.Bruto, às 14:59link do post | comentar

Aquele restaurante chinês?

Que tinha um cozinheiro velhote?

De facto, fazia comida bem saborosa.

Mas nunca nenhuma me soube tão bem

como na semana depois da sua morte.


02
Set 10
publicado por A.Bruto, às 09:57link do post | comentar

A serpentina

apercebeu-se que não era serpente

mas sim um ente de papel, sem vida

que já tinha girado e rodopiado

até cair num chão molhado.


01
Set 10
publicado por A.Bruto, às 22:44link do post | comentar

arrumo os rascunhos às escuras

com as obtusas brisas raras

sopradas pelas janelas

habituo-me, aos poucos,

ao novo brilho das letras debaixo dos dedos e descrevo

o que vai ser mais um

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31
Ago 10
publicado por A.Bruto, às 15:18link do post | comentar

se fosses um grão de areia,

ter-te-ias alojado no meu olho.

e para te expulsar da minha visão,

irritado com tamanha maçada que me impede de vislumbrar

em grande e em pequeno, em três dimensões e tudo o mais,

ignorei as senhoras, médicas do saber feito, que me incitavam

para que lave a vista com soros

e outras gotas e mezinhas com as águas que curam os males da visão.  

 

teimoso que sou, na minha própria estupidez,

esfreguei-te e provoquei uma infecção.

agora, tudo o que vejo passa primeiro por ti


publicado por A.Bruto, às 14:21link do post | comentar

rumina mecanicamente

o senfim industrial

que separa a uva do engaço

rumino o dia banal

e separo o acessório

do sumo que irei beber

 

com isto, não quero

encontrar semelhanças em processos

tão diferentes como o desengaço da fruta

e o desembaraço das compras

a fermentação da uva

e o acumular de sombras

 

mas quero acreditar

que, no fim do dia,

acabamos os dois

cheios de vinho


26
Ago 10
publicado por A.Bruto, às 21:00link do post | comentar

será a subtileza muleta

do vernáculo necessário

ou o vernáculo um instrumento,

de quem nada sabe e tudo quer?

 

 


publicado por A.Bruto, às 20:49link do post | comentar

esse nojo com que observo

em frente à igreja da vila

os jovens que, parados,

só pensam no pecado,

deixando escorregar as mãos inadvertidas

para as tetas da catequista,

só é ultrapassado pelas cervejas contínuas

que surgem na minha mesa,

chegando a brindar aos avanços pré-puberes

de um qualquer galifão

destinado a tirar os três

a quem os quer convencer

que foi um deus que os fez


11
Jun 10
publicado por A.Bruto, às 15:27link do post | comentar
o ar foge, como se o chão debaixo dos pés saltitantes se inquietasse, primeiro num brusco safanão que te desampara,quase fazendo-te cair, depois num contínuo desenrolar, em frente, para o lado, para onde quer que tu queiras ir, o chão leva-te. e a transparencia do ar que te rodeia é tão enganadora. como é que não se vê e não se mede aquilo que te foge em dias assim? Respiras mais fundo, mais devagar e o chão afunda-se debaixo dos teus pés.

publicado por A.Bruto, às 11:18link do post | comentar
Um dia destes levanto-me e não volto,fecho a porta atrás de mim para não a abrirem. Antes disso, dou.me ao trabalho de saltar para cima da mesa e sapatear alegremente sobre as resmas de papéis. Com a sorte que tenho, caio no chão, parto uma perna e isso nunca seria considerado um acidente de trabalho.

24
Mai 10
publicado por A.Bruto, às 15:58link do post | comentar

a minha obsessão, presa ao desumano sentimento


21
Mai 10
publicado por A.Bruto, às 15:13link do post | comentar

abram-se os diques e afoguem-se nas ilusões,

concentrem-se em ramos flutuantes de duvidosa solidez

apertem as pedras contra os bolsos e abram a boca sem falar

percorram os rápidos contra as rochas ocasionais

que nos quebram os ossos ao arrastar

o corpo sufocado pela massa que o envolve,

que nos sufoca o pensamento

recorrente de que o fim não é o fim o fim não é o fim o fim não é o fim

e os ossos que se partem pelo caminho já não doem tanto assim

e quando o fim chega ao fim, não é mais do que um outro salto de cascata

que nos quebra mais um pouco até não haver o que quebrar

até seres disforme mistura de água, corpo e mente

até deixares de ser o que alguém sente

até deixares de ser e seres parte do que é toda a gente.

 

 

 

 

 

 

 

 


17
Mai 10
publicado por A.Bruto, às 23:43link do post | comentar | ver comentários (1)

quem é que engano?

foram crimes de antanho, tentativas frustradas

de roubar e sair com vida de um

buraco fundo, tão fundo como o céu.

quem, lá de cima, espreita para o teu umbigo

com um interesse desmedido e

abre o postigo para te deixar entrar,

é o mesmo que te oferece

com desprezo dedicado

um pontapé disfarçado

de abraço salutar

 

 


27
Abr 10
publicado por A.Bruto, às 11:00link do post | comentar

um cartão, de visita, nunca fica por muito tempo.


publicado por A.Bruto, às 10:39link do post | comentar | ver comentários (1)

quer a criatura escrever e a mente não a deixa escrever. não é bem não "deixar", pois a mente não a impede de nada. está aqui a folha de papel e a caneta, agora escreve - diz-lhe ela. mas diz num tom trocista porque sabe que a criatura não vai escrever. a criatura só escreve quando a mente está distraída com outras coisas, de somenos importância, seja a fazer contas à vida, as eternas contas de sumir, seja a carpir imaginárias mágoas, sim, que esta mente, verdade seja dita, é pródiga em imaginar mágoas, certezas e dores de alma. nesses momentos em que a mente tem os olhos revirados para dentro, a criatura escapa-se para o cubículo escuro e escrevinha, rapida e ferozmente, para melhor aproveitar todos os momentos. mas, nesta altura, nestes últimos dias, a mente anda desperta, aberta, atrevo-me a dizer que anda contente? . e a criatura, deixada à solta, no meio do cubículo e das folhas brancas, dos rascunhos iniciados e das obras inacabadas, nesse cubículo onde a claridade dos dias de verão teima em começar a entrar, não tem vontade de escrever. para a criatura, a opressão é a melhor semente para a criação. Talvez um dia ela escreva sobre isso.

 


23
Mar 10
publicado por A.Bruto, às 12:33link do post | comentar

Um cartão de visita nunca fica por muito tempo.


15
Mar 10
publicado por A.Bruto, às 15:33link do post | comentar

Era capaz de me habituar à sua peculiar insegurança de mulher cheia de força, daquelas forças interiores que são postas à prova das maneiras mais injustas possíveis. Era capaz de me habituar ao seu cheiro, sempre bom. Era capaz de me habituar à sua inteligência, perspicaz, à sua adulta meninice, às nossas contradições, asquerosamente fofas, sem as quais aprendi a viver e sem nunca perceber a falta que me faziam, até a conhecer. Mais do que as vidas passadas, descobri uma nova vida. e sou capaz de me habituar a ela.


publicado por A.Bruto, às 09:26link do post | comentar | ver comentários (3)

Foi uma sequência de acontecimentos que ainda tentámos explicar mas, contrariamente ao que é a nossa natureza em sociedade, magneticamente, fomo-nos aproximando. baixámos as defesas.

e ainda bem que o fizémos.

 


10
Mar 10
publicado por A.Bruto, às 17:32link do post | comentar | ver comentários (3)

ele está apaixonado de novo. como se nunca tivesse tido antes, apesar de saber reconhecer os sintomas e a estupidificação natural que sofrem as pessoas que padecem desse estado. o próprio termo "apaixonado" dava-lhe vómitos até determinada altura. mas, quando ele fala com ela, todos os maneirismos, tom de voz, aquele sorriso estúpido na cara, todos os dados indicam que, claramente, está (blhék) "apaixonado". e depois, tentar definir por uma série curta de palavras é uma tarefa ingrata, sobretudo para quem está numa situação em que a sua própria inteligência é questionada. é que nunca, em condições normais, se fala com outra pessoa como se ela fosse uma criança e nós seus companheiros de recreio, a não ser que sejamos, efectivamente, crianças no recreio. e, mesmo assim, terão de ser crianças como nós fomos, porque as crianças de hoje são tudo menos crianças, parecendo-se uns mini-adultos, mas mais burrinhos (ou só com menos experiência de vida). mas são cínicas, falsas e más. mini-adultos, portanto. mas, apaixonados, entramos numa estupidez natural, numa inocência tal que, facilmente, damos o corpo ao manifesto, caímos alegremente e nem sequer notamos. vamos por uma encosta abaixo e começam-nos a falhar os pés e a qualquer momento vamos cair, mas não conseguimos parar e a lama faz-nos escorregar e a velocidade aumenta e já não queremos parar e parece que estamos quase quase quase a cair e os nossos pés não tocam no chão e é essa vertigem que desafia as leis da gravidade e esse momento da corrida ladeira abaixo que parece que dura meses, horas, nanosegundos de adrenalina e essa vontade de chegar ao fim da descida, caindo ou não caindo, estatelando-se ao comprido ou não. Quando ele pensa nela, é essa a vertigem na barriga, a mesma respiração, presa entre o peito, como se estivesse a cair durante todo um dia.


08
Mar 10
publicado por A.Bruto, às 10:04link do post | comentar

e aquela confusão tornou-se num emaranhado ainda maior. gosto.


04
Mar 10
publicado por A.Bruto, às 01:02link do post | comentar

Noutro tempo, noutro lugar tudo seria fácil, como se isso pudesse ser escolhido.  Se calhar até com outras vidas, com outros trabalhos, amigos, cargos e carros. com outra vida, com outros tempos, noutros termos. O que pode ser escolhido, nesta altura, é (e só isso e nada mais) se,a seguir a dar este passo com o pé direito, dorido e inchado, posso podes, dar o passo esquerdo. Quando me apercebo, a mecânica do andar escolheu por mim ti, estando já esse  calcanhar a empurrar o mundo para trás, criando o atrito suficiente para a tracção (atracção) funcionar. E ando. O que se pode escolher não é o sítio, o tempo ou o lugar. simplesmente, se posso, podes, podemos, ter o poder de sermos intérpretes no que está para acontecer. Que nenhum saberá o que será, ainda. Eu caminho, corro, coxeio, salto nessa direcção. Sem saber porquê mas sem o questionar.

 

A chuva miúdinha que caiu lá atrás parece um dilúvio de proporções bíblicas comparada com a confortável luz que ainda me encandeia no caminho que surgiu mesmo à minha frente.


03
Mar 10
publicado por A.Bruto, às 17:54link do post | comentar | ver comentários (1)

O preço de ter ofertado demasiado tempo, mais que o necessário, mais do que o saudável foi esta vontade, surgida da necessidade de o utilizar egoísticamente. Tal como a minha dor, que é só minha e que ninguém compreende. E fodam-se quem vem com aquelas palavras comezinhas, de  peninhas e compaixõezinhas, com os olhares vazios de sentimento, pregando o sermão repetido pela cultura popular, dizendo-me que já era a altura de a deixar ir, que já estava no seu tempo. O seu tempo era o MEU tempo! e se o tempo dela chegou, também o meu teria chegado. Deveria ter chegado e não chegou. Devia a alma, a mente, o centro coordenador de emoções, o id, o ego, o que lhe queiram chamar, devia ser programado a desligar essa formatação quando alguém morre. Se morreu, todas as minhas memórias dela e com ela deveriam morrer, também, com ela. Formatação de disco, apagar a pasta, reciclagem esvaziada. E todo um tempo vazio à frente, à espera de ser preenchido com outra pessoa. ou comigo, ou com ninguém. ou com colecções de rótulos e caricas, de saltos-livres e pesca artesanal, de passeios pelo jardim e jogos de sueca ou qualquer outra idiotice sugerida por esta gente de olhos vazios, que não sabem que a transporto comigo, até ao fim do meu tempo, sem nunca a passar para ninguém.


01
Mar 10
publicado por A.Bruto, às 00:23link do post | comentar

As personagens ganharam uma nova casa. A difícil fase das mudanças, de palavras e bagagens, para o livro da sua história (moinho de vento que não me cansarei de combater) terá que ser iniciada rapidamente. E, parte mais difícil desta transição oferecida ("caída do céu" é expressão tão fácil de usar para a definir mas tão cliché que, como as cartas de amor do outro, é tão ridícula que tem que ser utilizada), essa mudança será feita ordenadamente e com alma,  com uma rigidez soviética e um romantismo francês, com trabalho e organização, raiva e tempo, tempo,tempo,tempo e atenção. Com vontade de usar a nova casa, irei juntá-las, as personagens, com palavras e bagagens e, tijolo sobre tijolo, página sobre página. irão encontrar um sentido. Afinal, este trabalho também liberta.

 

(mas eu sou tão desorganizado com a vida delas)


25
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 01:28link do post | comentar

Trauteei aquela repetição e dei-me ao luxo de lhe juntar umas côres, das minhas. só o fiz porque ninguém me estava a ouvir. Toda a gente que conheço pensa que me conhece mas, na verdade, ignoram que eu pinto músicas. Sobretudo as que não estou a ouvir, pelos menos, que não estão, naquela altura, a ser ouvidas por mim. Os sons mântricos, internos, infernos, aqui dentro da minha cabeça,  começam como começou o mundo dos outros. E à palavra, juntam-se os coros infernais, as tubas deformadas, as cordas estouradas. e a forma, no pensamento disforme, é esclarecida com a luz dos metais e com o cheiro das madeiras. ribombam os tambores com o metrónomo cardíaco e está lançado um novo mundo. que vai voltar à palavra, agora com outra côr, com outro feitio e com o tempo que, entretanto, já foi repetido. com outras côres, mas repetido. com outra frase, mas repetida. No fim, tudo é diferente. Quando, passado uns dias, umas horas, uns segundos, quando, depois de a teres precipitado para uma apoteose wagneriana, eis que, lá dentro (cá dentro)  surge a inevitável repetição, disfarçadamente e de mansinho... Então, junto-lhe as outras côres, que já sabemos que irão ser as mesmas. Porque, no fundo, e por muito desconjuntada, alterada, violada, lambida, mastigada e reciclada, sei que será sempre a mesma música. Aquela a que junto côres quando ninguém me vê. a que finjo não saber que é a mesma.


17
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 10:56link do post | comentar | ver comentários (3)

será uma cirurgia delicada, esta de tentar remover a bala que disparei contra o meu pé. ossos bem espalhados em migalhas, infecções purulentas que se podem formar de um minuto para o outro, tudo contra a corrida a que me predispus fazer. Coxeio até onde conseguir coxear e faço das fraquezas forças, mais uma vez. valerá a pena correr? quando chegar ao fim (ou cair para o lado), logo saberei. Agora, ainda o faço com mais força.


16
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 01:11link do post | comentar

.


15
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 02:17link do post | comentar

há uma obrigação, mas das que vem de dentro, das que não conseguimos controlar. sinto-me bem por saber que, todos os dias, tenho um tema novo para ser tocado em concertos de uma pessoa só, apesar das mãos se multiplicarem pelo número de personagens que vivo (e não as vivemos todos?). força-me a despejar as coisas boas e coisas más para começar o compasso seguinte, a virar a página do caderno e a ver a próxima, novinha em folha, com tanto para ser escrito, com tanto para ser ouvido. sem arte nem engenho, com pressa e pouca ou nenhuma preocupação. talvez por isso sejam coisas "umbiguista", centradas na única coisa que vou levar desta vida. mas é que eu gosto tanto do meu umbigo...

 

(obrigadinho ao senhor das artes, soube bem)

 

PS: e o cabrão do Aguiar não consegue fazer uma porra de um discurso coerente à aldeia!!!! IRRA!!!!


14
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 03:52link do post | comentar

cansaço, de pálpebras pesadas e olhos vermelhos. pensamentos que soluçam para dentro do copo de uma qualquer bebida aqui à mão, mas ainda sem conseguirem atingir a razão. sinto que outra cabeça paira sobre a minha cabeça, esta última inchada, inflada de sangue que não repousa. e tudo isso desaparece, de um minuto para o outro. este torpor magnífico anestesia-me. devias ser real.


12
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 00:49link do post | comentar

mas assim, se os viveste, adormecido, terás vivido? ou pairaste sobre eles?ou terão sido vividos pelo tempo dos outros, tendo o teu tempo, a tua medida sido supensa como estátua de praceta? é que as estátuas, imóveis, vêm a vida a passar, quando os pombos lhes sujam a fronte, quando os bronzes enferrujam e espalham verdete pelo mármore.


10
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 01:58link do post | comentar

a viver pelo tempo presente, aguiar estaria pela hora da morte. mas no seu tempo, ainda agora tinha começado a viver, tinha depreendido que, o que ele tinha passado não seria igual para todos. seriam eles mais, logo mais fortes, mas o seu tempo era dele. todos os dias..

Não lhe pareceu justo que o miúdo a levasse assim pela mão e, pior, ela ir. e virar-se para trás, vendo que aguiar a observava. a cabra. ainda para mais ela, que parecia a única que o acompanhava no tempo alternativo, no viver que a vida da vila lhe consumiu mas, e sobretudo nesse, no viver que ele tinha criado com ela. o tempo não voltaria atrás, fosse o dela ou o dele.


09
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 02:34link do post | comentar

não to diria.

estas paredes, atrás das quais te escrevo, são vetustas muralhas, de rigor medieval

que atravessam velhos campos de batalhas, sangues e ódios, pulsões e desesperos

e não se destroem assim, de um momento para o outro.

 

(mas pedra a pedra, linha a linha, elas estão a cair e a culpa tem de ser de alguém. e é tão fácil que seja tua)


04
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 16:37link do post | comentar

Surpreendes-te por eu saber o que é o Método, mas não pratico o dito de dar o dito por não dito, de saber sem contar. Amanhã, ou hoje, cá te espero, o tempo que for preciso. Porque, conhecendo o Método, também me surpreendes. E deixar passar isso em branco, desorganiza-me as ideias.

Deixei de metodizar, como já não fazia desde que arrumei na prateleira organizada por sistema de cores, alfabeticamente sentida, a última magazin de planos falhados e actores frustrados de um filme que só acaba quando não estiver à espera.

Por isso, espero mais um dia, e Outro. Mas  preparo, sem pensar nisso, o plano de cena para amanhã.

 


02
Fev 10
publicado por A.Bruto, às 02:12link do post | comentar

hoje magooei um dedo, como já fiz muitas vezes. umas vezes é um vizinho ou outro deste dedo, mas hoje foi este dedo. este, aqui, estás a ver? não ofendo ninguém por ter um dedo magoado, pois não? é que me dói à brava e não o consigo mexer, fica para aqui espetado, estático e rígido. E tinha que ser mesmo hoje, quando me decidi a ser sociável.


29
Jan 10
publicado por A.Bruto, às 03:19link do post | comentar | ver comentários (1)

Segunda-feira é um bom dia para receber elogios. Aliás, devia ser à segunda feira que guardávamos aquela palavra de encorajamento, aquela palmada nas costas, aquele elogio à equipa de futebol preferida dos outros. Diziamos tudo à segunda-feira e despachávamos o assunto. Ouvíamos e agradecíamos. Para quem tecia considerações positivas,sobre outrém, o trabalho seria, forçosamente, mais complicado, visto ter que que compilar os elogios da semana para debitá-los ao fim dum dia. Mas não é nada que, com organização e disponibilidade mental, não se faça. Aliás,  um dia destes, até pode ser que lhe elogiem o meticuloso trabalho de indexação de elogios e elogiados.


14
Jan 10
publicado por A.Bruto, às 21:28link do post | comentar | ver comentários (4)

A música tem destas coisas. As Músicas, temas, grandes temas, na maior parte das vezes, não têm que ter brilhantes poemas a adornar acordes dominantes e escalas dóricas, perfeitas e afinadas.

- Olá, eu sou o Augusto e sou melómano.-

Desde que me lembro, que tenho música ao meu lado. As minhas lembranças mais antigas são, na sua maioria, sempre associadas a temas ou álbuns (sim, eu digo álbuns)específicos. Mesmo que, mais tarde, o tempo se tenha encarregado de escolher a melhor banda sonora para esse momento que, e ao contrário da música, não pode ser repetido carregando no botão que corresponde ao repeat..

A Música é o minha paixão e foi, muitas vezes, o que me fez acordar de marasmos. Ou adormecer em repouso.Também já foi acusada de ser minha amante, já foi acusada de ser um vício. Já me aturou muito e eu a ela. mas sempre me foi fiel. Há coisas que não se explicam, só se sentem. E devo-lhe a minha vida.

 

Justifico assim a minha escolha para o dia de hoje. Para mim, é um dos temas mais bonitos de Black Sabbath, não por ser bem cantado (Ozzy Osbourne no seu característico tom de buzina de porto), melodicamente complexo (é tão simples, mas tão simples) ou liricamente por aí além (traduzindo livremente, "  sinto-me infleiz, sinto-me tão triste, perdi o melhor amigo que alguma vez tive, ela era a minha mulher, amava-a tanto, mas já é tarde, deixei-a andar - brilhante, Sir Ozzy). É uma música que está ligada, oficialmente, e a partir de hoje, ao resto da minha vida.

 

Só porque hoje voltei ao trabalho. Também porque mudei hoje a minha vida. E sinto-me muito bem.

(é claro que, depois deste tema, aumento o volume e vou fazer head banging pela casa fora...) 


30
Dez 09
publicado por A.Bruto, às 15:15link do post | comentar

Vou entrar em 10 a zero.


29
Dez 09
publicado por A.Bruto, às 23:34link do post | comentar

 

Acordas com a conversa ao telefone, saltitante. O disco já veio a meio e o Lou Reed canta, infantilmente, uma história de coscuvilhice urbana, logo de culto, não fosse ele o Lou Reed.

Levantas-te na faixa seguinte, com os espasmos deste mau exemplo de liberdade, conceito que tu alteraste com o tempo. Lembras-te da primeira vez que ouviste este álbum. Apesar de te continuares a sentir insatisfeito com os mesquinhos aspectos da vida quotidiana e com os objectivos perdidos para as mudanças, e porque nunca te sentirás plenamente satisfeito. Está na tua natureza. Senhoras das cartas astrais, vá de deitar cartas e atribuir esse estado de alma, palavra atirada fora por falta de melhor definição ou arte de quem o tenta descrever, esse destino da alma, se preferirem, aos astros.

Os doutores de papel passado acrescentam dores físicas ou psicológicas, tormentos amplificados. Atribuiste isso à vida que aí vem. Aceitas a sugestão da decadente cantiga de embalar enquanto colocas a agulha de volta à primeira faixa do disco.


09
Dez 09
publicado por A.Bruto, às 21:06link do post | comentar

que se eu quisesse medir, teriam que pensar numa outra unidade de medida. só para quantificar o inqualificável. para preencher o teu .vácuo


28
Nov 09
publicado por A.Bruto, às 16:32link do post | comentar | ver comentários (2)

absorto.

o normal.

absurdo.

é quase tão absurdo como discutires apoios fiduciários enquanto escreves a tua vida dentro da tua mente, como tu fazes todos os dias. Sobreviveram-te os pólos, energia alternada em duvidosos estabelecimentos onde se vendem os agasalhos para o calor que não lhes dão em casa, pobres diabos.

olhos secos de lágrimas inchadas, guardados em anos da prisão de são lado nenhum. Outro lado,

figuras esbeltas de carne e carbono, conteúdo vão e tábua rasa de interesses fúteis e ouvidos tapados à canção que te deram quando nasceste.

saltas

do canto onte te sentas todas as noites, apagas o cigarro com a certeza de quem muda de vício, percorres os olhos pelos adornos dos corpos de quem te vai mudar a vida, paras no menos mau, aposta segura, como a sua mulher pensou um dia. soltas um gás disfarçado pela tua presença de rainha. abordas e arriscas, distante e afável, és voz rouca de tabaco e álcool martelado.

 

...

 

voltas à cama, à da tua cama, vês o sangue ensopar o linho e poliester, lençol branco, pureza única da tua vida, fabricada por mãos infantis.

sentes frio no meio do delírio, tapas o corpo frio e soltas um suspiro (primeiro gesto real de uma vida de mau romance, onde és uma personagem secundária prestes a ser engolida pela história quand ainda nem chegaste ao segundo capítulo)

ninguém te vai escrever, não passas de uma história de amigos bêbados a medirem-se, foste uma cara bonita - "és bonita demais para estar aqui" - que não vais alcançar o rodapé.

ou dormes ou morres. ou então, vives, já não percebes

a

diferença

quando o tempo passa, passa mesmo ao teu lado´, como quem diz que a estrada passa aqui

quando, afinal, a estrada é estática -estrática?- e tal e qual é o tempo que passa como uma estrada

aqui

mesmo ao teu lado.

 

(encheste o copo, até meio, de sangue com um single malt, dos caros,

ainda viste o copo meio cheio, reparaste?, prontamente sorvidos de um gole só.

Optimisticamente, suicidaste-te, irão encontrar-te mais tarde e vão ver aquilo em que te tornaste no princípio da estrada e do tempo, pedaço de carne, envolto em sangue.

tranquila ira de vida desperdiçada - vai ser uma pena-  anglicamente, a treat for their eyes, quando te encontrarem,os tarados. 

Respira.

não consegues?

é agora.

não valeu a pena, ainda pedes desculpa sem conseguir dirigir o perdão. desculpas-te a ti própria e morres.

 

(a velho no público não se apercebeu que morreste e manifesta-se ruidosamente contra a imagem dos pêlos púbicos envoltos em sangue - afasta-se maldisposta, vomitando à porta do teatro, mesmo antes de entrar no convenientemente colocado táxi.

Nessa noite, ao deitar-se, pensou que deveria ter sido ela puta)

 


publicado por A.Bruto, às 16:19link do post | comentar

well, was it worth it?

was it materialistic enough to be a bastard or

you had reasons for being an arse's hole?

It's just because

I broke my hand, once again,

against someone else's ideals.

 

wrap it up while

the fight continues

and pain is still a gain.

 

An assumed risk for a suicidal clown

is to go onstage

wearing nothing but a frown.

 

 ______

Maybe he was a troublemaker

that made people laugh while

stealing their will

which he kept

in his

confy backpack.

__________________

 

 

(sometimes the wrong idea was passed, just because no idea was being passed at all)

 


publicado por A.Bruto, às 16:16link do post | comentar

Roamin doorsteps of the next bar, it was just another pitstop to be throwned out from.

Bourbon was being mixed with someone's blood and I didn't wanted to know whose' from.

old lolitas pleasure themselves with some strangers eyes and the their wives felt appaled with the new sight.

 

 

 

 

(maybe it was more complex but, from my barstool, you would find it quite simple)

 


publicado por A.Bruto, às 16:09link do post | comentar

...and this weird machine

built inside of me

and it triggers

and I don't know how to stop

 

it

 

a killer device

that runs free in my mind

that i cant control

that it's not of this world

 


28
Out 09
publicado por A.Bruto, às 12:19link do post | comentar

Produzimos as certezas apoiadas na demanda do consumo.

Importas a novidade pelas erradas verdades, com o acrécimo do imposto de valor adquirido pela razão.

Transportamos a quantidade encomendada pelo arrojo duma inevitável acção, perfeitamente errada no fundo e na decisão.

Consumimos e libertamos, ao pontapé, arquivos de memórias presas na mente inconsciente.

Abertas as discussões, aprecia-se, num instante, a folia do momento.

 

 

 

 

 


26
Out 09
publicado por A.Bruto, às 10:19link do post | comentar

You took my kisses and all my love
You taught me how to care
Am I to be just remnant of a one side love affair

All you took
I gladly gave
There is nothing left for me to save

All of me
Why not take all of me
Cant you see
Im no good without you
Take my lips
I want to loose them
Take my arms
Ill never use them
Your goodbye left me with eyes that cry
How can I go on dear without you
You took the part that once was my heart
So why not take all of me

 

tags: ,
música: All of Me - Billie Holiday

13
Out 09
publicado por A.Bruto, às 20:54link do post | comentar

Entre mentes, entre tanto, entre vistas, entre prantos.

Entre, se faz favor, para o tirar deste lugar.


01
Out 09
publicado por A.Bruto, às 09:51link do post | comentar

Saw a great white shark while he was nibbling my feet.

Politely asked him what he wanted. no answer

so I kicked him on the teeth

 

while he walked away, all the way down my throath, I asked myself what did he wanted and when would he'll be back for more.


15
Set 09
publicado por A.Bruto, às 20:48link do post | comentar

A sorte madrasta nunca teve um filho.Tinha sido enjeitada pelos homens e pelo azar, sem que ninguém lhe tivesse pegado para a fazer feliz. Sendo filha única da Vida e do Acaso, nem sequer lhe poderiam dizer que ia ficar para tia. Restava-lhe, apenas, ser a mãe daqueles que, por se desviarem das suas trajectórias, lhe iam parar à porta pedindo um pouco de pão, de calor ou de alento. A sorte, madrasta, lá os aconchegava com uma malga de sopa quente e histórias da vida de outros que por lá já tinham parado. Já aquecidos e sossegados, os descansados adormeciam no seu regaço e eram prontamente sufocados por um amor que os impedia de respirar ou de lutar pela vida.


publicado por A.Bruto, às 09:33link do post | comentar | ver comentários (1)

mecanicamente,

levar as mãos à cara

aperceber-me que estou vivo

ritualizar o tempo decorrido

desde o último suspiro

que me lembro

até ao último do dia

para depois o viver

como se fosse outro dia

quando, de facto,

é o mesmo dia

outra vez

 


14
Set 09
publicado por A.Bruto, às 12:43link do post | comentar

um dia

roubei-te um beijo, sem romantismos nem borboletas

a circundar umas escadas urbanas, depressivas,

de paredes pintadas

 

roubei-to, imaginando que mo darias, mesmo

que não to pedisse

Fosse tudo tão fácil como esse beijo

e ainda hoje te beijaria

 

Pensámos que sendo um para o outro

ainda nos agradaríamos mais

Quando tudo o que precisávamos

era saber roubar beijos um do outro

Sem esquecer porque é que os

queríamos guardar

só para nós


publicado por A.Bruto, às 12:36link do post | comentar

quero rachar-te a cabeça ao meio

e procurar aquilo que perdeste

ou que não queres encontrar

 

quero esmurrar os muros e paredes

até desabarem em pó

quero abrir-te a alma

como o meu peito está aberto

 

quero sofrer-te, viver-te, respirar-te

outra vez

e outra

 

quero aprender a não ser

bestial quando o instinto

me leva a ser louco por ti

 

quero deixar de querer

e voltar a ser o louco por ti

tags:

08
Set 09
publicado por A.Bruto, às 17:14link do post | comentar

pulmões abertos em união, numa comunhão de farsas

em que os gritos vociferados deixam de fazer sentido

tornando-se em mantras populares, com direito a saltos

comunitários

 

Deixem-me ser o que sou, se isso implica deixar de ser

 


25
Ago 09
publicado por A.Bruto, às 10:03link do post | comentar

Lidas à itaiana,com ênfase nas sílabas roladas,

como se a forma conseguisse emprestar alguma dignidade

ao que foi dito entre duas vontades

 

 


21
Ago 09
publicado por A.Bruto, às 17:43link do post | comentar

 

Lentamente, o cerco foi declarado, acto de guerra indiferente à situação do indigente país em que se tornou a minha mente. As povoações em pânico soltam gases de pavor enquanto sulfurosos gritos engasgam gargantas tapadas. Soltaram-se as feras dentro da jaula, famintas de vontades.

 


18
Ago 09
publicado por A.Bruto, às 11:44link do post | comentar

A liberdade do teu abraço

é tão opressiva como o meu cansaço


11
Ago 09
publicado por A.Bruto, às 12:44link do post | comentar | ver comentários (4)

porque sou fraco e caio em tentação

e informo-me

porque não consigo deixar de pensar

e repensar (e odeio pensar)

porque não consigo deixar de olhar para o buraco que há bem dentro de mim

(onde tu cabes na perfeição)

e ando aos encontrões

sabendo que o rumo não era impossível de descobrir

 

porque estou magoado

por andares em frente

(de olhos vendados)

quando eu, o eterno eu,

nunca soube andar contigo sem ser

de lado

 

porque te desejo, neste momento, com toda a gana

que te façam passar por toda a mágoa do mundo

para poder esperar que, um dia, caias em ti

e, inevitavelmente, em mim

 

porque esta pausa será eterna

 


05
Ago 09
publicado por A.Bruto, às 11:25link do post | comentar | ver comentários (2)

Balança a pança

com bonomia,

olha-te de lado,

na indecisão

de te dar a mão

na desconjuntada

terapia da dança

da razão.

 

 

 

 

 

 

 


04
Ago 09
publicado por A.Bruto, às 11:20link do post | comentar

De resto, tremo consideravelmente de há uns meses para cá.

Sempre que bocejo, e agora bocejo constantemente, sinto um formigueiro nos braços. Os dentes, que ainda rangem durante a noite, tornam-se insensíveis aos eléctricos espasmos que me percorrem a espinha dorsal.

 

 

 

O equilíbrio,

 

já de si instável,

 

consegue ser ainda mais vertiginoso, sentindo por vezes que me falta

 

o chão

 

 

 

 

 

 

por baixo dos pés.

 

Ao fixar as letras no monitor, ou qualquer outro ponto que esteja em qualquer outro lugar, na parede, no chão, no ar, desisto do resto do mundo e ignoro-o.

 

Perco horas de vida a fixar o momento.


22
Jul 09
publicado por A.Bruto, às 00:49link do post | comentar

Força de ti

Revolve, remexe, empurra, sopra,

transtorna, magoa, destrói, aparta,

pisoteia e calca as vontades reais

como um cigarro aceso que foi atirado

contra o chão molhado

e que não precisa de ajuda

para se apagar.

 


16
Jul 09
publicado por A.Bruto, às 20:23link do post | comentar

E agora para quem não quero

que sei que me lêem

mas que nunca chegarão

aquilo que eu já fui.

 

PUTA QUE VOS PARIU. E Putas há muitas. Mas às putas que escrevo são putas indirectas. São as putas que recebem o dinheiro para foder a vida dos outros. Os outros já vos conhecem, filhos (e filhas) da puta. Os outros sabem que vocês sabem. O que vocês, filhos da puta (sem menosprezo pela secular profissão, mas apostado no carácter insultuoso mais baixo, o único que vocês, padrões morais da putaria), conhecem. O que vocês nunca entenderão, grandessíssimos filhos de uma cabra tinhosa, é que os outros se estão a cagar (espalhando as fezes pelas vossas sorridentes caras) para aquilo que vocês, inúteis vermes, pensam. E quando pensam, se é que pensam, pensam dentro dos pequenos moldes em que as vossas cabecinhas foram apertadas. Como se enfiadas à nascença num torno manual, às vossas cabeças, ideias, nunca vos foi permitido pensar. Tenho pena de vocês. Como se fossem cães leprosos que sobreviveram a um atropelo que poderia ser mortal, mas vos deixou sequelas de sociabilidade. Não vos odeio, simplesmente não vos reconheço valor. Filhos da puta, energúmenos tarados, que se exprimem por falsos padrões morais mas que, ao fim e ao cabo, são espremidos por esses mesmos limites. Limitados. Tenho tanta pena de vocês todos, pedaços de fel antropomórficos. O vosso sentido de certeza e a vossa clareza de pensamentos é como uma lente suja, cheia de esperma ressequido que já percorreu o circuito interno do corpo, entrando-vos pelo ânus e saindo, em forma de palavras, pela boca, deixando uma crosta seca no canto do lábio inferior. Hoje defeco, do alto de um décimo terceiro andar, para as vossas bocas abertas em gargalhadas, cá em baixo. E vocês, que riem, comem merda sem se aperceber. E à vossa capacidade energúmena não vos estende para além do mundo tacanho, imbecil, autosuficente, como amebas de onã. Dou-vos exactamente aquilo que vocês querem. O pior é que vocês, imbecis escatológicos, não se apercebem que vocês é que são os estranhos que comem a merda que vos deixo, lambendo os beiços em ignorante deleite. As mesmas gargalhadas que só demonstram que o torno estava oleado e que a vossa mente é quase tão pequena como as personalidade que mimificam, sem nunca as terem, sequer, compreendido. Sorrio-vos enquanto cago, bem de alto, para vocês. Que seja como os burros, então. Prefiro ser um burro esforçado que vos enche a vida de significado do que uma pobre desculpa de enzimas e esqueleto humano. Burros sois vós que nem sequer se apercebem da dimensão da vossa imbecilidade.

 

Espero sinceramente que gostem das minhas merdas. Haverá sempre, e só para vocês, um troço especial. Lambuzem-se como se não houvesse amanhã. Ao menos, têm uma razão para se esquecerem da pequenez das vossas vidas.

 


15
Jul 09
publicado por A.Bruto, às 02:53link do post | comentar | ver comentários (1)

Como tu sabes ser, às vezes oiço-me a pensar...

(mas tu imaginas, hoje, as dificuldades que estou a ter para acertar nas letras do teclado...)

 

Como tu sabes o que eu sou, mesmo assim, n imaginas o que eu SOU.

(como eu não sei aquilo que fui, mas muito menos imagino aquio que posso ser. Consigo imaginar quilo que serei.Por favor, não é isso que quero)

 

Como ninguém sabe quem sou

(mesmo que alguém, que me conhece desde que me viu  virgem ao Todo, não faça noçao. daquilo que eu realmente sou. Quase tão pouca noção de mim como aquela que eu tenho)

 

Mesmo que eu não saiba o que é isto...

"Isto" é o mesmo que o "aquilo". "Aquilo" enquanto "coisa física" que. quotidianamente. se vê despojada de um qualquer ideal que, mais que o comunitário e institucionalizado, é o pessoal. O MEU.

O tal que me olha no espelho e se enche de perguntas banais sobre o que quer que seja que eu veja neste momento...

 

Hoje aproveito que tu (e TU TENS UMA LETRA GRANDE SÓ PARA TI) também me leias.

Sem ideais preconcebidas e com ecursos esilísticos amadores.

Atravessa as linhas e tenta, um dia (breve, que seja) perceber porque o irei fazer. A minha vida já foi, por demasiado tempo, a vida que não foi a tua. Nem que o tenha sido só para mim. Quanto te surpreender (e vou-te surpreender, porque só depois tudo isto te irá fazer sentido), lembra-te duma noite. Específica para mim, casual para ti, Uma noite em que, pelo gozo de podermos cantar em coro, dentro daquele carro (o tal que me poderia ter tirado a vida sem nos termos apercebido disso), cantámos uma música que, de tão foleira, se tornou o meu hino contigo. (tu nos agudos e eu nos graves - apesar do meu falsetto ser melhor que o teu e, mesmo assim, tu insistires nele. Eu era criança, os meus agudos -a naturalmente - seriam mais certos que os teus).

 

Peço-te que não me julgues - não tens, de todo, esse direito -  mas peço-te que me compreendas como  só tu o poderás compreender.

 

 Sim, sei que vou aturar a conversa moralista e cinquagenária (quinquagenária? ou será mesmo quim quagenária? ah, e desculpa a expressão temporal desadequada ao estilo, mas temos que chamar o tempo pelos seus nomes).

Não me peças explicações enquanto não te der decisões.

 

Mas quando decidir, faz o teu papel, mas peço-te que não me julgues. Faz o teu papel como eu já fiz mais do que o meu. (a chantagem aprendi-a com a minha outra raíz e, para o bem e para o mal, é aquilo em que me tornei..).

 

Em jeito de despedida (precoce, muito precoce, porque egoísticamente, quero que me deixes de te ver antes de eu não te conseguir sentir ao meu lado, fortaleza invicta assente em ilusões e pés de barro), peço-te perdão por nunca ter sido aquilo que eu sei que alguma vez eu poderia ter sido para ti. Mas peço-te que não me julgues por aquilo que eu ainda não sei o que posso ser para mim.

A nossa vída, meu Pai (e agora assumo-o com todas as letras e sentidos que esta expressão alguma vez teve e terá), foi atípica. Hoje, não queria que fosse de outra forma. Obrigado por compreenderes (ou, assumidamente aturares) o que eu sou. Mas não me peças nunca mais aquilo que eu poderei vir, ou não, a ser. Deixa-me ser. Sei que posso vorrer o risco de dar um trambolhão, parir o nariz contra o chão, magoar-me, ser carne mole contra a parede. Mas sou eu (EU) que o estou a fazer. Sei que me será difícil, senão impossível, fazê-lo sem tu o compreenderes. Mas, se não fores tu a compreender, mais ninguém compreenderá. Amo-te do fundo do meu coração e espero que um dia o meu (sim, um rapaz, inteligente como o avô) te reconheça como tal. Mas hoje, por favor, deixa-me saltar. Deixa-me não ver o que está à minha frente, não ouvir expectativas, ser aquilo que sou.

Peço-te para que, quando me arrepender (e espero que nunca seja preciso) tu sejas a minha parte madura, a parte que não me diga "eu avisei-te" mas que me digas "e agora, para levantar, o que é preciso?" e me deixes a pensar nisso. Sabes que sou menino. Têm sido os dias (e já é TARDE) em que preciso de ser homem. E, não me fodas, tu quiseste fazer o mesmo.Não duvido e acho que, se me disseres o contrário, mentes-me.

 

Pior do que isso, mentes-te a ti próprio.

 

E não há nada pior do que enganarmos o nosso passado reescreveendo-o. Detesto escrever por metáforas, mas não o consigo fazer doutra forma. É a minha única maneira de escrever. Pode ser que um dia, lendo-me, me consigas interpretar como consegues interpretar os que lês para o teu mester (duvidei entre mester e mister, mas mister soa a treinador do Montagraço FC e mester soa, quando lido, a um qualquer estrangeirismo.. Tenho que ler mais clássicos portugueses).

Desculpa não escrever com a mesma velocidade a que penso mas o que penso, espero eu, vale mais do que aqulo que alguma vez escreverei.

 

Quero ter essa oportunidade. De lutar. com já tive há 8 anos, e resultou. Pode ser que desta resulte melhor. Ou não. Só o saberei mais tarde.

 

Se tens confiança nessas tais capacidades que tu (vocês os 2) me reconhecem todos os dias e que vêem a ser desperdiçadas, apoia-me. Sei que é egoísta. Não o nego.

Mas preciso de saber que, um dia, quando eu "chutar o balde" por não conseguir viver mais com aquilo em que vocês me tornara enquanto homem adulto (e ainda bem, tão bem, que o fizeram), que vocês fariam como eu faria ao meu filho.

Adoro-te do fundo do meu coração, com toda a lamechice daí inerente. Hás de (ou como se diz por aqui, "hádes") ter 100 anos e eu deitar-te-ei a língua de fora. Tu vais saber o que eu te quero dizer. Não espero mais do que uma reacção paternal. A tua lingua, imberbe e centenáriam  pra fora da tua boca com dentes a fingir ;)

 

(desculpa a linguagem mal cuidada e os erros de ortografia e de concordâncias e etc., as letras "comidas" e "cortadas".` Não sei se sabes, mas só escrevo enquanto penso. Se penso no que vou escrever, nunca escrevo o que já pensei)

 

PS: não me venhas com merdas de conversa de avôzinho. Contigo (ou sem "tigo"), a minha decisão está tomada, Preferiria que a compreendesses. É que, se não fores tu, só eu a vou compreender, Falamos melhor no futuro.


13
Jul 09
publicado por A.Bruto, às 01:56link do post | comentar

a euforia da nova criação

repetida até à exaustão

provou que a dúvida seria constante,

apesar das endofirnas espirradas

em nuvens de azul

 

com o tempo independente,

em compassos delineados

pelo matemático remate da madeira contra o aro

dessa linha saltitante onde penduro os meus metais,

seca o suor húmido da apatia

transformada em agressão.

 

Mas os tempos delimitados

eas danças independentes

só vêm dar força ao que nao te faz sentido.

 

pela energia que gastas e

pelo tempo que perdes

consegues olhar em volta

e iludir um final feliz.


publicado por A.Bruto, às 01:48link do post | comentar

o ovo cozido que se sentou no muro

(porque sabia que, se caísse, não se partia)

esticou o dedo médio para fora da casca

para que. quando apodrecesse

se soubesse porque é que tinha

saltado para fora da panela

 

 


09
Jul 09
publicado por A.Bruto, às 22:29link do post | comentar | ver comentários (4)

Quando fiz a mudança? Quando foi aquele momento? Será que houve sequer, um momento? Ou terá sido a sequência de tempos, uns mais seguidos do que os outros e que, por acaso, foram vividos pela mesma física pessoa?
Não se pode pensar uma mudança. Posso pensar em fazê-la, sonhá-la, imaginá-la, desejá-la. Mas só acontece quando é feita, de facto. E acontece, de um momento para o outro. Como ela me disse, com voz de mulher séria e a menina dentro dela, chutar o balde. Ri-me. Tirar o apoio, sentir o pé a fugir, saber que dependes de ti e da tua força. Da tua vontade. Saber o que é importante e o que é irrelevante. Partir a cana do nariz ao descobrir.

"It’s all about the journey". O destino é secundário e garantido. Se lá chegares, e de certeza que vais lá chegar, tanto melhor. Mas não te vais sentir satisfeito no “objectivo cumprido”. Será sempre no caminho até lá. Espero eu.
O que realmente me fode são as expectativas. Desde que me passaram, inconscientemente, penso eu, fasquias, limites, metas. Nunca me perguntaram se eu os queria, de facto, passar. Esses objectivos. Será que alguma vez pensei de facto nos meus objectivos. Bem dito, será que alguma vez os tive? Os clássicos, acho que não. White picket fence, feliciddae através de um meio digno, acomodado, aconchegado, mesmo que seja esforçado. Esforçar pelo objectivo de outrem. Fodam-se. Não é isso que quero, pois não? Ou será que me fartei (só) de viver bem, sem saber que o estou a fazer?

Já não seria a primeira vez. Mulheres. E a mulher. A tal das tais, pela qual alterei parte da minha vida e abdiquei de coisas que não eram (descobri mais tarde, talvez demasiado? acho que não.) tão importantes. Futilidades. Forçadas amizades fúteis. É tudo a mesma coisa.

Mas a mudança é inevitável. Urge. Sanidade depende disso. Não estou para me tornar naquilo que sou hoje, mas elevado à potência da estagnação. Do paúl ao deserto, basta a minha inacção. E essa acompanha-me nervosamente, mesmo ao lado das expectativas dos outros, elevadas até à minha surdez. Não sou nem nunca serei aquilo que esperam de mim. E ainda bem. Serei aquilo que irei ser, melhor. Nos meus termos, nas minhas condições que, até são bem simples. Assim que as descobrir, claro.

Vamos. Um dia destes. Deixa-me hoje, na ressaca do acontecimento, no fim de um livro (o indicado, sem saber que assim o era), pensar no que seria ser o que realmente sou. Como fui contigo, sem saber que me revia naquilo que tinhas feito.
Ou de que precisava de uma desculpa para o fazer. Como sempre. Aliás, será possível agir por impulso. Hoje ia agindo, batia com a porta. Mais uma vez, ouvi que as expectativas que os outros (e desta vez, os outros têm uma letra minúscula, escrita assim, outros) tinham sobre mim, tinham sido frustradas. Uma parte de mim sentiu-se feliz (ia escrever "estranhamente feliz" mas não tenho necessidade de me mentir). Estaria absoluta e totalmente a cagar para as expectativas que têm em mim, logo só tenho que me sentir bem comigo. Não respeito os outros o suficiente para que me exijam ser aquilo que não sou – benvindo ao mundo real, dirão os que me conhecem ou que já cá andam nisto há mais tempo que eu. Alguns até o dirão cinicamente, invejosos do que tenho. Eles que não se esqueçam que o que tenho não me foi dado, foi suado e conquistado contra o pior dos meus inimigo, talvez até o único, que sou eu próprio.

Sim, senti-me bem por ouvir que não estava a cumprir o objectivo de me tornar carneiro no rebanho para a tosquia. E daí até ao objectivo final (o deles) vai um passo.
Ignorantes, burros.

Essas expectativas subiram-me à cabeça, não as soube interpretar como aquilo que de facto são, incentivos?

O valor que hoje me reconhecem será parte daquilo que ainda poderei vir a ser?

Não sei.

Mas tenho de o descobrir. E tem de ser já. Agora. Seja como for. Sei que vai ser impulsivo.

Como tudo aquilo que já me fez mudar. Para o bem e para o mal.


publicado por A.Bruto, às 22:26link do post | comentar

sugeri um dia que o começasses de noite

como se fosses obrigado a olhar sem ver

como se a luz te ofuscasse e o ébrio negrume te fosse dar algum prazer

como se te tornasses no teu antitético ser.

 

 

(como se algum dia o conseguisses fazer...)


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