Noutro tempo, noutro lugar tudo seria fácil, como se isso pudesse ser escolhido. Se calhar até com outras vidas, com outros trabalhos, amigos, cargos e carros. com outra vida, com outros tempos, noutros termos. O que pode ser escolhido, nesta altura, é (e só isso e nada mais) se,a seguir a dar este passo com o pé direito, dorido e inchado, posso podes, dar o passo esquerdo. Quando me apercebo, a mecânica do andar escolheu por mim ti, estando já esse calcanhar a empurrar o mundo para trás, criando o atrito suficiente para a tracção (atracção) funcionar. E ando. O que se pode escolher não é o sítio, o tempo ou o lugar. simplesmente, se posso, podes, podemos, ter o poder de sermos intérpretes no que está para acontecer. Que nenhum saberá o que será, ainda. Eu caminho, corro, coxeio, salto nessa direcção. Sem saber porquê mas sem o questionar.
A chuva miúdinha que caiu lá atrás parece um dilúvio de proporções bíblicas comparada com a confortável luz que ainda me encandeia no caminho que surgiu mesmo à minha frente.