Assunção já estava farta. Era a terceira vez esta semana em que acordava com aquele barulho abafado e irritante vindo do segundo direito, mesmo por cima da sua cama. Prédios velhos, chão de madeira. Pareciam pequenos passos. Como se tratasse dos passos de um animal muito pequeno, mas muito pesado. Como um dinossauro reduzido à escala. Ainda sorriu com o próprio pensamento, mas o som não parou. Lembrou-se daquelas bolas saltitonas, feitas de silicone ou qualquer coisa assim do géneroe que tinham oferecido ao Gui quando ele tinha 5 anos e que lhe custaram 2 vasos e uma janela, até terem sido confiscadas. A mãe é que sabe. Era isso, como se de uma bola saltitona se tratasse. Em que a bola estava em constante movimento mas com a precisão de um relógio atómico. De 3 em 3 segundos tum Um Dois Três tum . Assunção não tinha por hábito ter um sono leve, mas há 3 noites ouviu aquele som seco e desde então que não consegue dormir. Não é bem não conseguir dormir porque o corpo e a cabeça também já não aguentam tanta hora seguida a funcionar ininterruptamente, sobretudo se tiver uma constante pancada de Moliére por cima da cabeça. Tentou dormir na sala e no outro quarto dos fundos. E sempre o maldito barulho.