oco
seco
vazio
treme
seco
o fio
busco outro
e jogo o pião
ponho-o a rodar
na palma da mão
duas carambolas dá o pião
salta para o ar
e ainda roda no chão
oco
seco
vazio
treme
seco
o
fio
oco
seco
vazio
treme
seco
o fio
busco outro
e jogo o pião
ponho-o a rodar
na palma da mão
duas carambolas dá o pião
salta para o ar
e ainda roda no chão
oco
seco
vazio
treme
seco
o
fio
Entre os dias amorfos e os solarengos desejos
O negrume solitário e a efusiva alegria
De eternas ocasionais companhias
Respirei fundo e enrolei mais um cigarro
Às árvores da praça, tortas e verdejantes
desejei-lhes uma boa vida
enquanto um cão vadio as reclamava como suas
Matei a sede e inspirei o fumo do cigarro
Pedi a conta e não paguei
Levei-me a casa da esplanada do café
a ausência do vento castigava-me os olhos
Enquanto pensava no dia seguinte,
sem ter saido sequer de anteontem.
Entre as virtudes e os desejos
E as urgências sussurradas ao ouvido
Respirei fundo e enrolei outro cigarro
O cão vadio, agora alegre proprietário
de depósitos inertes de ácido úrico
Intimidou-me com o seu olhar triste
Afinal, o meu mundo era dele
E só nós o sabíamos
Não me apetece.
Apetece-me não me apetecer.
Apetece-me ficar a olhar para o papel e para o monitor e fazer isso.
E não me venham dizer que eu não estou a fazer nada.
Estou a fazer o que me está a apetecer.
Os papéis (e são tantos) juntam-se em desorganização e espalham-se pelos cantos da mesa, escondidos nas picadas atrás do teclado, saqueando os cigarros que, por incúria, deixo perto dos bandidos, fazendo desaparecer dados, sorvendo a energia em pequenas doses unitárias de meio milímetro de espessura. Os meus papéis são ferozes guerrilheiros, adeptos das melhores tácticas de combate corpo-a-mente. ou mente ao corpo. e o corpo e a mente continuam dormentes.Contrariado, faço o que eles querem. Quem diz que não se deve negociar com terroristas?
Puta que o pariu.
Que aparece assim, de mansinho ou de rompante,
Que nos tolda o caminho e nos torna dependentes
de estímulos químcos e desequilíbrios hormonais
Que confundimos, com a nossa inteligência medieval,
com aquilo a que chamamos de sentimento.
Por isso, puta que o pariu
Que nos leva a viver para quem não o merece
Que nos leva a acreditar em quem não o merece
Qu não nos deixa acreditar que isto é mesmo assim
Que não me deixa respirar, porque é mesmo assim
Que não me deixa respirar
Que não me deixa respirar
Não me deixa
respirar
e à meia-noite, o relógio de parede, velho como tempo do tasco, soava. Institivamente, levantava-se e pegava na guitarra. "Não era a hora", era quando lhe apetecia. Apetecia-lhe todos os dias e àquela hora. E as mesas com estudantes bifas a comer caldo verde e os bêbados que faziam a procissão das capelinhas e acabavam sempre ali, refúgio do pecador, agarrados, putas e chulos despertavam da sua efusiva apatia, daquela inebriante e falsa alegria e voltava-os para onde vinha aquele.gemer bonito e triste que os empurrava sem que eles se apercebessem, como tísicos, de pernas esticadas para a frente, calcanhares enterrados no chão, olhos fechados, a sorrir como estúpidas crianças, como só as crianças podem ser. E estupidamente sorriam e levavam-se pelo chorar da guitarra em direcção ao abismo.
Quando terminou, todos se tinham esquecido da sua mão de sueca, das minis suspensas a caminho da boca seca. Todos no tasco se apercebiam que tinham vivido um momento que não se iria repetir, mesmo que ele lá estivesse no dia seguinte, à meia noite,
salta, treme, rebola, rói a consciência de mãos atadas ao indivíduo. Solta a gargalhada pendente ao pagamento da factura em atraso e cospe na irresponsabilidade.
Refreia os sentidos e age por intenção. Pecúnio e pecado, solto e pago.
Respira
outra vez, respira...
Não consegues? estás morto. morreste. foste um dia absorvido pela redundante simplicidade das coisas e procuraste complicá-las, pela certeza das palavras e pela fraqueza. eterna fraqueza que não permite ver-te ao espelho.