absorto.
o normal.
absurdo.
é quase tão absurdo como discutires apoios fiduciários enquanto escreves a tua vida dentro da tua mente, como tu fazes todos os dias. Sobreviveram-te os pólos, energia alternada em duvidosos estabelecimentos onde se vendem os agasalhos para o calor que não lhes dão em casa, pobres diabos.
olhos secos de lágrimas inchadas, guardados em anos da prisão de são lado nenhum. Outro lado,
figuras esbeltas de carne e carbono, conteúdo vão e tábua rasa de interesses fúteis e ouvidos tapados à canção que te deram quando nasceste.
saltas
do canto onte te sentas todas as noites, apagas o cigarro com a certeza de quem muda de vício, percorres os olhos pelos adornos dos corpos de quem te vai mudar a vida, paras no menos mau, aposta segura, como a sua mulher pensou um dia. soltas um gás disfarçado pela tua presença de rainha. abordas e arriscas, distante e afável, és voz rouca de tabaco e álcool martelado.
...
voltas à cama, à da tua cama, vês o sangue ensopar o linho e poliester, lençol branco, pureza única da tua vida, fabricada por mãos infantis.
sentes frio no meio do delírio, tapas o corpo frio e soltas um suspiro (primeiro gesto real de uma vida de mau romance, onde és uma personagem secundária prestes a ser engolida pela história quand ainda nem chegaste ao segundo capítulo)
ninguém te vai escrever, não passas de uma história de amigos bêbados a medirem-se, foste uma cara bonita - "és bonita demais para estar aqui" - que não vais alcançar o rodapé.
ou dormes ou morres. ou então, vives, já não percebes
a
diferença
quando o tempo passa, passa mesmo ao teu lado´, como quem diz que a estrada passa aqui
quando, afinal, a estrada é estática -estrática?- e tal e qual é o tempo que passa como uma estrada
aqui
mesmo ao teu lado.
(encheste o copo, até meio, de sangue com um single malt, dos caros,
ainda viste o copo meio cheio, reparaste?, prontamente sorvidos de um gole só.
Optimisticamente, suicidaste-te, irão encontrar-te mais tarde e vão ver aquilo em que te tornaste no princípio da estrada e do tempo, pedaço de carne, envolto em sangue.
tranquila ira de vida desperdiçada - vai ser uma pena- anglicamente, a treat for their eyes, quando te encontrarem,os tarados.
Respira.
não consegues?
é agora.
não valeu a pena, ainda pedes desculpa sem conseguir dirigir o perdão. desculpas-te a ti própria e morres.
(a velho no público não se apercebeu que morreste e manifesta-se ruidosamente contra a imagem dos pêlos púbicos envoltos em sangue - afasta-se maldisposta, vomitando à porta do teatro, mesmo antes de entrar no convenientemente colocado táxi.
Nessa noite, ao deitar-se, pensou que deveria ter sido ela puta)