Numa sala fechada, em que todo o mundo vê o que eu vejo,
o ridículo que se torna respirar
e viver entre golfadas de ar
é cada mais óbvio.
As pessoas passam à minha volta,
e gostam de me atirar amendoins metafóricos,
afinal, sou o animal favorito que todos odeiam,
preso, em observação demente.
Respondo como deve ser,
espalhando fezes pelas paredes
do quarto.
Frequentemente, é só o que querem ter
para os preencher.
Ocasionalmente, uma cabriola
de uma vida passada
que os faz rir enquanto apodreço.
Mas o meu vazio, o vácuo, o
grande buraco no peito, eterno,
torna-se assim mais difícil de preencher,
por essa peça, única,
orgão vital que foi perdido entre brincadeiras
de olhos fechados e cabeça entorpecida.
Este invólucro de ar, gás, fezes
e desdém pede esse mesmo ar, só esse,
que me comprime há demasiado tempo
pela sua ausência, sorvendo vida
entre inspirações e expirações.
Mas tudo isto se passa dentro.
Quem me vê
tenta perceber, entre o suor das virilhas
que lhes dou a cheirar,
como continuo a querer viver.
Tento que percebam, animal que sou,
com bostas de pontaria certeira,
o que é primário.
Nego-me, assim, a rasgar o peito em dois.