Entupimento.
respiração off
gant.
sobram dores dobradiças.
Escarros e escaras.
peito preso preso peito
preito peso peso preito
é o que faz a medicação em conformidade,
tanto para isto como para aquilo.
Entupimento.
respiração off
gant.
sobram dores dobradiças.
Escarros e escaras.
peito preso preso peito
preito peso peso preito
é o que faz a medicação em conformidade,
tanto para isto como para aquilo.
Hoje a rádio ajuda
O miúdo abandona aos poucos a razão e estala compassadamente os dedos enquanto o velho Dean Martin canta sobre miúdas de azul.
erguemos o copo e emborquemo-los de uma só vez em honra do velho crooner
de que vale ter ídolos se não lhes fizermos um brinde de vez em quando?
Lança-se no ar agora uma versão do My Funny valentine sem nos levantarmos da cadeira.
Na esplanada, uma mulher também escreve. Nunca a vi por aqui nem a vejo hoje, os chapéus de sol fechados intrometem-se no meu campo de visão - vejo-lhe as pernas e os braços a debitar para um caderno igual ao meu. Talvez esteja a descrever-me como eu tento fazer. Ou esteja só à procura de uma razão para estar ali. tal como eu.
Cantamos para dentro enquanto o cigarro chega ao fim - está demasiado frio para enrolar outro, apesar de ter no bolso um maço dos outros, enrolados em máquinas infernais de fumo e enxofre.
A moça fala agora ao telefone e diz que tem as mãos geladas "devia ter trazido as luvas, amor"
O amor, pelos vistos, concorda e roga para o seu regresso. Todo o amor regressa quando tem frio.
O simpático trio do iludido e as duas miúdas lá foram fumar o charro às escondidas,
mesmo no meio da clareira do parque.
(Há dias em que, fora da esplanada, na varanda de casa, os vejo em ginásticas normais e tendas humanas
tentando evitar que o vento lhes sopre o resto do entorpecimento para o chão)
As mulheres bonitas (pelo menos uma delas já sei que o é)
estão atrás de mim a estudar, ou a ler
ou hoje sou eu a ser observado
figura (ridícula) de preto,
com as sapatilhas da moda
e as mãos geladas que debitam gatafunhos que só eu entenderei.
Dessa forma, ninguém perceberá as paranóisas e descrições,
ficando mascaradas de textos indecifráveis
que, depois em casa, eu tento perceber -
como se fosse um autor com substancia e não fosse também um iludido.
(mas que nunca gastaria duzentos paus em uisqui com duas fedorentas)
A outra mesa está ocupada atrás de mim, não as vendo, oiço-as.
A certa altura, uma levanta-se e vai ao balcão,
lembrando-me de que gosto de mulheres que, mesmo no inverno, sabem que são boas e não têm medo de o mostrar,
mesmo que os mamilos estejam sempre espetados com o frio.
Para meu alívio, ao vê-la assim, a pele esticou e o sangue afluiu para a extremidade correcta.
Tudo normal, como dantes,
Duas mesas ocupadas na esplanada que de agradável tem o facto de ser a 13 passos da porta de casa,
mas que não disfarça o frio que se faz sentir.
Ouvimos a rádio mal sintonizada, comercial, catadupa de temas vazios de qualidade musical.
Será mais interessante ouvir as conversas das mesas ao lado
o miúdo a querer impressionar as miúdas que o acompanham embevecidas,
ouvem (ouvimos todos) como o rapazola gastou duzentos e sessenta paus
em uisqui velho, só porque o Nelinho chamou as gajas mesmo fedorentas lá para a mesa deles
naquela noite.
Com esta conversa, o pau dele cresceu um centímetro
e as miúdas só pensam na quantidade de dinheiro que
as fedorentas ganharam com um iludido.
a quem puder, (e só tu sabe que podes)
um escritor fantasma de noites adulteradas
e vidas feitas de olhos semicerrados.
Deixa o teu umbigo e vê a vida dos outros
que, pela tua pena, morrem lentamente.
Se cada dia é o dia novo
e temos que espremer limões
para fazer dinheiro e
comprar morangos
rio-me da lembrança de puto
em que cada dia era vivido
com a urgencia de
que fosse passado.
ai ai como eu gostava
de escrever como o godinho
meter as palavrinhas
com muito cuidadinho
todas juntas e certinhas
para que houvesse
algum sentido nisto.