Escrita de Pressão. Também em Jorros de Litro.
20
Fev 12
publicado por A.Bruto, às 12:16link do post | comentar

Hoje a rádio ajuda

O miúdo abandona aos poucos a razão e estala compassadamente os dedos enquanto o velho Dean Martin canta sobre miúdas de azul.

erguemos o copo e emborquemo-los de uma só vez em honra do velho crooner

de que vale ter ídolos se não lhes fizermos um brinde de vez em quando?

Lança-se no ar agora uma versão do My Funny valentine sem nos levantarmos da cadeira.

Na esplanada, uma mulher também escreve. Nunca a vi por aqui nem a vejo hoje, os chapéus de sol fechados intrometem-se no meu campo de visão - vejo-lhe as pernas e os braços a debitar para um caderno igual ao meu. Talvez esteja a descrever-me como eu tento fazer. Ou esteja só à procura de uma razão para estar ali. tal como eu.

Cantamos para dentro enquanto o cigarro chega ao fim - está demasiado frio para enrolar outro, apesar de ter no bolso um maço dos outros, enrolados em máquinas infernais de fumo e enxofre.

A moça fala agora ao telefone e diz que tem as mãos geladas "devia ter trazido as luvas, amor"

O amor, pelos vistos, concorda e roga para o seu regresso. Todo o amor regressa quando tem frio.

 

 


publicado por A.Bruto, às 12:03link do post | comentar

O simpático trio do iludido e as duas miúdas lá foram fumar o charro às escondidas,

mesmo no meio da clareira do parque.

(Há dias em que, fora da esplanada, na varanda de casa, os vejo em ginásticas normais e tendas humanas

tentando evitar que o vento lhes sopre o resto do entorpecimento para o chão)

 

As mulheres bonitas (pelo menos uma delas já sei que o é)

estão atrás de mim a estudar, ou a ler

ou hoje sou eu a ser observado

figura (ridícula) de preto,

com as sapatilhas da moda

e as mãos geladas que debitam gatafunhos que só eu entenderei.

Dessa forma, ninguém perceberá as paranóisas e descrições,

ficando mascaradas de textos indecifráveis

que, depois em casa, eu tento perceber -

como se fosse um autor com substancia e não fosse também um iludido.

(mas que nunca gastaria duzentos paus em uisqui com duas fedorentas)


publicado por A.Bruto, às 11:58link do post | comentar

A outra mesa está ocupada atrás de mim, não as vendo, oiço-as.

A certa altura, uma levanta-se e vai ao balcão,

lembrando-me de que gosto de mulheres que, mesmo no inverno, sabem que são boas e não têm medo de o mostrar,

mesmo que os mamilos estejam sempre espetados com o frio.

Para meu alívio, ao vê-la assim, a pele esticou e o sangue afluiu para a extremidade correcta.

 


publicado por A.Bruto, às 11:47link do post | comentar

Tudo normal, como dantes,

Duas mesas ocupadas na esplanada que de agradável tem o facto de ser a 13 passos da porta de casa,

mas que não disfarça o frio que se faz sentir.

Ouvimos a rádio mal sintonizada, comercial, catadupa de temas vazios de qualidade musical.

Será mais interessante ouvir as conversas das mesas ao lado

o miúdo a  querer impressionar as miúdas que o acompanham embevecidas,

ouvem (ouvimos todos) como o rapazola gastou duzentos e sessenta paus

em uisqui velho, só porque o Nelinho chamou as gajas mesmo fedorentas lá para a mesa deles

naquela noite.

Com esta conversa, o pau dele cresceu um centímetro

e as miúdas só pensam na quantidade de dinheiro que

as fedorentas ganharam com um iludido.

 

 


10
Fev 12
publicado por A.Bruto, às 18:03link do post | comentar

a quem puder, (e só tu sabe que podes)

um escritor fantasma de noites adulteradas

e vidas feitas de olhos semicerrados.

Deixa o teu umbigo e vê a vida dos outros

que, pela tua pena, morrem lentamente.

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08
Fev 12
publicado por A.Bruto, às 18:26link do post | comentar

Menos olhar e mais juízo!

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01
Jun 11
publicado por A.Bruto, às 10:39link do post | comentar

olho em volta e todos vêem o mesmo que eu,

dentro dum pensamento que se mastiga e me corrói

repetido em filme surdo mudo e manco

sem direito a legenda ou explicação,

estático em evolução ou argumento,

apenas com um desconforto

como introdução.

 

Ampliando-se em vórtice

neste aleatório momento preciso,

rasga, a pouco e pouco, o tendão

do grego que nos lembra

das fraquezas humanas

e em proporções divinais,

multiplica a sede que me afoga,

esperneando por demorar tanto tempo

a tomar o seu devido lugar

 

A estátua desfaz-se enquanto

a orquestra desafina.

Assim, atinjo a perfeição

sem nunca ter existido.

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22
Out 10
publicado por A.Bruto, às 15:14link do post | comentar

Alma morta
Noutro dia primeiro
Abriu os olhos e chorou


....


Quatro vidas
Depois da primeira morte
Somou as restantes e sorriu


...


Sôfregos tempos,
os de termos sozinhos
as respostas

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01
Set 10
publicado por A.Bruto, às 22:44link do post | comentar

arrumo os rascunhos às escuras

com as obtusas brisas raras

sopradas pelas janelas

habituo-me, aos poucos,

ao novo brilho das letras debaixo dos dedos e descrevo

o que vai ser mais um

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14
Set 09
publicado por A.Bruto, às 12:36link do post | comentar

quero rachar-te a cabeça ao meio

e procurar aquilo que perdeste

ou que não queres encontrar

 

quero esmurrar os muros e paredes

até desabarem em pó

quero abrir-te a alma

como o meu peito está aberto

 

quero sofrer-te, viver-te, respirar-te

outra vez

e outra

 

quero aprender a não ser

bestial quando o instinto

me leva a ser louco por ti

 

quero deixar de querer

e voltar a ser o louco por ti

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28
Mai 09
publicado por A.Bruto, às 01:15link do post | comentar

Entre os dias amorfos e os solarengos desejos

O negrume solitário e a efusiva alegria

De eternas ocasionais companhias

Respirei fundo e enrolei mais um cigarro

Às árvores da praça, tortas e verdejantes

desejei-lhes uma boa vida

enquanto um cão vadio as reclamava como suas

 

Matei a sede e inspirei o fumo do cigarro

Pedi a conta e não paguei

Levei-me a casa da esplanada do café

a ausência do vento castigava-me os olhos

Enquanto pensava no dia seguinte,

sem ter saido sequer de anteontem.

 

Entre as virtudes e os desejos

E as urgências sussurradas ao ouvido

Respirei fundo e enrolei outro cigarro

O cão vadio, agora alegre proprietário

de depósitos inertes de ácido úrico

Intimidou-me com o seu olhar triste

Afinal, o meu mundo era dele

E só nós o sabíamos

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26
Mai 09
publicado por A.Bruto, às 22:34link do post | comentar | ver comentários (2)

Não me apetece.

Apetece-me não me apetecer.

Apetece-me ficar a olhar para o papel e para o monitor e fazer isso.

E não me venham dizer que eu não estou a fazer nada.

Estou a fazer o que me está a apetecer.

 

Os papéis (e são tantos) juntam-se em desorganização e espalham-se pelos cantos da mesa, escondidos nas picadas atrás do teclado, saqueando os cigarros que, por incúria, deixo perto dos bandidos, fazendo desaparecer dados, sorvendo a energia em pequenas doses unitárias de meio milímetro de espessura. Os meus papéis são ferozes guerrilheiros, adeptos das melhores tácticas de combate corpo-a-mente. ou mente ao corpo. e o corpo e a mente continuam dormentes.Contrariado, faço o que eles querem. Quem diz que não se deve negociar com terroristas?

 

 

 

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