Hoje a rádio ajuda
O miúdo abandona aos poucos a razão e estala compassadamente os dedos enquanto o velho Dean Martin canta sobre miúdas de azul.
erguemos o copo e emborquemo-los de uma só vez em honra do velho crooner
de que vale ter ídolos se não lhes fizermos um brinde de vez em quando?
Lança-se no ar agora uma versão do My Funny valentine sem nos levantarmos da cadeira.
Na esplanada, uma mulher também escreve. Nunca a vi por aqui nem a vejo hoje, os chapéus de sol fechados intrometem-se no meu campo de visão - vejo-lhe as pernas e os braços a debitar para um caderno igual ao meu. Talvez esteja a descrever-me como eu tento fazer. Ou esteja só à procura de uma razão para estar ali. tal como eu.
Cantamos para dentro enquanto o cigarro chega ao fim - está demasiado frio para enrolar outro, apesar de ter no bolso um maço dos outros, enrolados em máquinas infernais de fumo e enxofre.
A moça fala agora ao telefone e diz que tem as mãos geladas "devia ter trazido as luvas, amor"
O amor, pelos vistos, concorda e roga para o seu regresso. Todo o amor regressa quando tem frio.